quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Seria cômico se não fosse comigo


Mais uma bela manhã em Lisboa. E aqui não há ironia alguma porque, mesmo com o frio, o Sol fingia ser verão no céu mais perfeito que já vi.

Vou pegar meu carro alugado para o Reveillon, que parei na rua na noite anterior. Abro o carro e logo vejo o proprietário de uma loja de motos, do outro lado, gritando comigo:

- Ah, finalmente chegou...

- Aconteceu alguma coisa?

- Ninguém aqui pode trabalhar por sua causa! Você não viu a placa!

Olho para trás e realmente percebo uma placa (aliás, duas) dizendo que trata-se de uma área exclusiva para motos, entre as 8 da manhã e 6 da tarde. Logo me desculpo, como qualquer um faria:

- Mil desculpas, realmente eu não tinha percebido, foi uma falha, desculpa mesmo atrapalhar vocês.

Ele me escuta, mas parece não registrar.

- Ninguém trabalha aqui por sua causa!

- Eu sei...Tô vendo agora, realmente vocês têm razão, eu peço mil desculpas, mil desculpas mas não vi a placa.

- Não viu? Você tá cego?

- Se eu tivesse visto, teria tirado meu carro antes das 8 da manhã. Desculpa. Eu não vi mesmo.

Daí vem a provocação:

- No Brasil vocês não têm isso, não?

- Sim, temos, mas eu realmente não vi.

Sem me dar chance de resposta, ele continua:

- É, acho que não existe não.

- Existe. Mas lá também existe se desculpar por um erro que você cometeu. Por isso tô pedindo desculpas.

Neste momento, acho que a discussão finalmente vai ter fim. Mas ele não desiste fácil:

- A gente aqui sem trabalhar! Você não trabalha pelo jeito, né?!

- Trabalho sim, numa empresa portuguesa, inclusive.

- Então tá atrasado porque são 10 da manhã!

- Sim, são 10 da manhã mas eu não tenho hora certa pra chegar.

- Ah, não tem hora pra chegar. Eu queria um trabalho assim!

Eu, que sou mané mas não sou burro, neste momento já entrei no carro e travei as portas. Então abro a janela e digo:

- Da próxima vez, você estuda.

E assim escrevo mais um capítulo na guerra dos brasucas mal-educados X tugas mal-humorados. Que, no fim das contas, é só uma questão de ponto de vista.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O pior dos dois mundos.


Não ter calor (nem mar) pra pular ondinhas.
Não ter frio suficiente para nevar no Natal.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O dólar psicológico


Mesmo quem nunca viajou para o exterior sabe que existe um dólar oficial e um paralelo. O que pouca gente já se deu conta é que há uma única moeda realmente relevante ao turista: o dólar psicológico.

Ao contrário das suas outras versões, o dólar psicológico não flutua com o humor do mercado, o nível do investimento imobiliário norte-americano ou as intervenções do Banco Central. Depende apenas do momento psicológico do comprador.

Vamos a um exemplo prático: sua esposa viaja e encontra aquela bota de couro, igualzinha as outras 12 que ela tem, por US$ 65. Neste exato momento, pelas contas dela, a bota custa menos de R$ 100, o que indica uma cotação de cerca de 1,5 reais por dólar.

Você até pensa em se intrometer, mas logo percebe que, pela lógica, aquele Blackberrry de US$ 299,99 sairá por menos de 450 reais. Uma pechincha.

Isso acontece, basicamente, em todo o momento de compra de um brasileiro no exterior, principalmente na frente de gêneros de primeira necessidade como botas de couro e Blackberrys.

Mas o dólar psicológico também tem disparadas repentinas. É o caso, por exemplo, de quando você vê um produto brasileiro numa vitrine ou prateleira. Uma garrafa de pinga que custa 22 dólares equivale a quase 50 reais, elevando a cotação para 2,27. Uma Havaianas de US$ 40 equivale a praticamente 100 reais (o mesmo preço da bota de US$ 65,00, veja você).

Morando em outro país você acha que vai perder este vício, já que não apenas gasta, como também ganha em outra moeda. Engano seu. Faz quatro meses que estou em Lisboa e ainda me surpreendo ao ver que um PF com bife custa exorbitantes 25 reais, enquanto um prato de bacalhau sai por módicos 15. Mesmo sabendo que ambos levam 7 euros da minha carteira.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Heróis Portugueses


Talvez você não saiba, mas os portugueses têm a capacidade de enxergar o futuro. Não se trata de nenhum grande poder, como um fã de Heroes poderia imaginar, já que esta habilidade os capacita apenas a ver os acontecimentos 1 ou 2 segundos antes de se tornarem realidade.

É isto que explica, meu caro leitor (o singular aqui não é por acaso), o fato de ter sempre um português buzinando atrás de você antes mesmo do semáforo abrir. Mas, é claro, a culpa não é deles. É do restante da população mundial, que só consegue enxergar a luz verde no exato momento em que ela aparece.

O mais curioso é que, apesar deste comportamento, outra coisa muito comum aqui é ver carros parados no meio da rua, interrompendo o tráfego pelos motivos mais banais: um afago no cachorro do amigo, uma compra rapidinha na pastelaria, uma conversa sobre a artrite que piorou com o frio. E, nestes casos, ninguém parece se incomodar muito.

Acho que eles precisam economizar cada milésimo de segundo nos semáforos para poder, no fim do dia, esperar um tiozinho, parado no meio da rua, descarregar as 130 caixas que acabou de trazer da Ikea.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Golpe Internacional


É tudo muito simples. Primeiro você liga o rádio do carro e ouve uma música do Chico Buarque. A partir de então, ela fica registrada no seu subconsciente.

Sem se dar conta, você passa perto de uma livraria cantarolando a música e é sugado pra dentro. Quando percebe, já está na frente da prateleira segurando um exemplar de "Budapeste" e resolve dar uma segunda chance ao escritor inquilino do músico.

Você devora o livro e se encanta pela cidade que, só depois, descobrirá ser desconhecida pelo autor.

Passam-se alguns meses e chega sua época de férias. Você abre o armário procurando um guia de viagens e dá de cara com o livro. Gosta da idéia de conhecer um país diferente e resolve passar uns dias na Zona Leste.

A cidade é mais do que você imaginava. A irmã quase tão linda quanto Praga, só que bem mais gostosa. Você visita a cidade e se arrepende de ter perdido tanto tempo com a irmã linda e chata.

Se despede do lugar, entra no Free Shop e é aí que o golpe acontece.

Ao colocar a mão no bolso, vê que sobraram alguns Forints, a moeda local. Você olha para os lados e avista uma garrafinha verde, bonitinha, um licor típico da Hungria. Bingo, você achou algo para presentear os amigos.

Só quando volta para casa é que percebe o erro. Você abre uma das garrafas, coloca o líquido num copinho e senta-se para degustar. Sente o aroma, dá um gole e aí, bom, e aí teme ter trocado a garrafinha por veneno de rato.

Pense no pior vômito que já passou pela sua garganta. Imagine-o gelado e passando no sentido inverso. Pronto, este é o Unicum.

Não pesquisei a história, mas algo me diz que foi uma bebida desenvolvida pela polícia comunista para torturar e matar sem deixar vestígios.

Só resolvi escrever sobre isso porque, há mais ou menos uma semana, um amigo aqui da firma chegou de lá contando exatamente a mesma experiência. Ele também não sabia o que fazer com aquilo. Pensou em usar como desentupidor de pia, mas ficou com pena dos canos.

Em "Budapeste", Chico diz que a língua húngara é a única que o diabo respeita. Se tivesse ido mesmo pra lá, saberia que ele também respeita uma bebida, que faz questão de servir como aperitivo para as visitas.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Aviso aos Navegantes


Na minha opinião, esta manchete deveria ser uma frase obrigatória, do tipo "o Ministério da Saúde adverte", colocada em todo pastel de Belém, travesseiro de Sintra e demais doces com calorias superiores a 3500. Algo bem mais comum por aqui do que um turista magro e desavisado pode imaginar.

O primeiro Mupi a gente nunca esquece.


Quando você chega aqui e pega seu primeiro job, vê que, entre as peças que precisa criar, existe um troço chamado Mupi. Como toda mídia desconhecida, você ignora, faz a campanha e, depois de aprovada pelo cliente, vê como adaptar.

Bom, pelo menos esta é a sua idéia. Porque a primeira pergunta que seu Diretor de Criação faz, antes mesmo de você falar o conceito, é: “Como vai ser o Mupi?”

Mupi nada mais é do que o mobiliário urbano. Basicamente aqueles cartazes que são colocados em pontos de ônibus, bancas de jornal, etc. Aqui, eles são mais importantes do que qualquer outra coisa impressa. É a página dupla da Veja. O outdoor da Faria Lima. O bottom no peito da estagiária siliconada. Maior visibilidade, impossível.

Esse aí em cima é o meu primeiro Mupi, que rolou há algumas semanas, para divulgar um novo jornal grátis. A campanha inteira é composta por frases irrelevantes, iguais àquela ali.

Como em todo trabalho, você faz um monte de títulos e só alguns saem. Mas você jura de pés juntos que todos foram veiculados. Bom, aí vão todos os que saíram nos mupis, jornais e revistas daqui. Juro.

• Os dinossauros não correm mais risco de extinção.

• Se Camões estivesse vivo, seria um milagre da natureza.

• Cachorros latem. Gatos miam. Camelos não.

• Se uma borboleta bate as asas do outro lado do mundo, ela deve estar voando.

• De cada 2 pessoas, 1 é a metade.

• Se nada acontecer, daqui a 10 anos estaremos em 2017.

• As 7 maravilhas do mundo são em número ímpar.

• Se todos os chineses pulassem ao mesmo tempo, um deles poderia torcer o pé.

• Todos os cogumelos são comestíveis. Alguns só uma vez. (Esta nem funciona pra campanha, mas eu gosto muito).

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O valor de uma amizade.


Hoje pela manhã, enquanto vinha para o trabalho, uma questão não me saía da cabeça: qual o preço de uma amizade? Ou, em outras palavras, qual seria o valor mínimo que eu exigiria para abrir mão de encontrar, falar ou ter notícias de alguém que eu gosto muito?

Este raciocínio, que nada mais é do uma versão do novelístico "Quanto você quer para sumir da vida da minha filha?", não me veio por acaso.

Vamos lá. Em São Paulo, trabalhava com um cara que era bem mais do que meu dupla. Além das 12 horas diárias que passávamos roçando as pernas na agência, era comum dividirmos almoços, jantares e fins de semana na praia. Tudo sem viadagem, antes que insinuem algo.

Havia também um hábito comum: sempre que a Megasena acumulava, fazíamos apostas. Bastava bater nuns 15 milhões de reais pra gente começar a sonhar que aquele seria o nosso último (e incompleto) job. Às vezes era eu que jogava, às vezes ele. Não importava muito quem marcava os números ou pagava o jogo. O combinado era que, se um ganhasse, a grana seria igualmente dividida, estivesse eu com o bilhete ou ele.

Durante todo este tempo, imaginariamente já estudei cinema em NY, passei dois anos viajando pela Europa, comprei uma cobertura na Vila Nova Conceição e duas Sabrinas Sato pra decorar a casa. Mas sempre com metade da grana. Porque a outra metade era dele. E não fazia sentido nenhum fugir com o dinheiro e perder a amizade do cara. Continuarímos juntos. Só que em vez de rachar um copo de pinga na Vila Madalena, passaríamos a dividir o banheiro do D.O.M vomitando Romanée-Conti. Simples assim.

Em Lisboa, ainda não tinha jogado na loteria, que aqui se chama Euromilhões. Até ontem. Estava saindo do almoço com o pessoal aqui da firma e fui com um cara gente boníssima, o Luis, fazer o jogo. O processo foi o de sempre: cada um preencheu seus jogos, juntamos as moedinhas, prometemos dividir o prêmio. Pagamos e eu acabei ficando com os bilhetes. Tudo normal.

Até que, hoje de manhã, peguei um jornal gratuito na rua e logo vi: "Prêmio é de 130 milhões". De euros, meu amigo. De euros. Fiquei pensando no cara gente boníssima que eu disse. Legal, divertido, boa praça. Mas acho que ainda não fez o suficiente pra valer 65 milhões de euros. Uma coisa é meu dupla do Brasil valer 7 milhões e meio de reais. Outra coisa é outra coisa.

Desculpa, Luis, mas é a verdade. Assim que eu botar a mão na bufunfa na segunda de manhã, você nunca mais terá uma prova mínima da minha existência na Terra. No máximo, um dia, quando chegar do trabalho de madrugada e estiver zapeando a TV, você me veja de relance gastando a sua grana em Ibiza. Porque vou fazer questão de torrar sua metade primeiro. Nunca mais te verei, falarei com você ou entrarei em contato. Apagarei você da memória. É a vida.

E quer saber de uma coisa, Luis? Acho até justo. Se você fosse amigo mesmo, estaria lendo este blog, cujo endereço te passei há mais de um mês, e descobriria meu plano. Você nunca deu valor. Mas, em breve, vai descobrir que estes textos aqui valem muito. 65 milhões de euros, meu caro. Bem mais do que a sua amizade. Tudo na vida tem um preço, Luis. Tudo tem um preço.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

2nd Life


Faz exatamente dois meses que entrei no Second Life. Estava cansado do mundo real e queria começar uma vida do zero. Uma segunda vida, para ser mais exato.

Nesta outra realidade, eu poderia ter torcicolos por olhar para os lados, mas seria nas praias e não em semáforos fechados. Não passaria mais tempo no trajeto do que no destino final. E me libertaria do eterno Dia da Marmota, com o Renan Calheiros ocupando a mesma primeira página dos jornais.

Na minha segunda vida, não teria que recorrer a ansiolíticos para controlar a pressão de criar um anúncio de rodapé para a Gazeta de Ourinhos, responsabilidade comparável a de um cirurgião que abre uma artéria ou a de um sushiman que corta aquele peixe fatal que eu nunca me lembro o nome (e que tive preguiça de procurar no Google).

Como quem faz resoluções de Ano novo, prometi não trabalhar tanto, não faltar com a verdade, pedir mais desculpas e usar fio dental três vezes ao dia.

Não posso dizer que tudo deu errado e, muito menos, que a experiência não tem sido válida. Meu avatar não pode se queixar. Consegue um bom vinho com 3 unidades monetárias, tem uma Vespa novinha e acaba de ganhar uma passagem para Berlim.

Apesar de tudo isso, há dois dias ele se viu obrigado a tomar sua primeria dose de Alprozam. Não soube identificar o problema. Mas tudo indica que é mesmo com o software.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Diferenças Culturais


No Brasil, sempre que eu chegava na agência usando camisa de manga comprida, o comentário era o mesmo: "Foi mostrar pasta, né?".

Ontem cheguei aqui do mesmo jeito e me perguntaram: "Acabaram as camisetas limpas, né?"

Ambos tinham razão.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

A vista.


Acabei de me matricular numa academia aqui em Lisboa. Que, por sinal, se chama "Academia". Em menos de uma semana eu já fui lá 2 vezes: a primeira para visitar e outra para fazer a matrícula. Mas eu juro que ainda volto lá este ano.

Do lado de dentro, não há nada muito especial. Esteiras, bicicletas, aparelhos para trabalhar bíceps, tríceps e glúteos. E uma cafeteria que serve broto de bambu e queijo integral de soja. Sem sal.

Mas as semelhanças com as academias paulistanas páram por aí. Basta olhar para o outro lado da janela pra notar a diferença. Em vez do rio Pinheiros e sua marginal entupida de carros, o que se vê é uma quase indescritível vista do Tejo, que tanto inspirou Camões, Fernando Pessoa e todos aqueles caras que a gente era obrigado a ler nos resumos do Objetivo.

Uma visão quase tão sublime quanto a que eu tinha na minha antiga academia em São Paulo, onde apenas um vidro me separava da piscina semi-olímpica na qual nadava, todas as quartas, ao meio-dia e quarenta e cinco, a mulher da foto ali no alto.

Uma visão que já me inspirou muito.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Leões de Lisboa


Lisboa tem leões. No zoológico, que ainda não tive a chance de visitar, e fora dele. Ontem eles se espalhavam pela cidade: nos ônibus, metrôs, andando pelas calçadas, atravessando ruas. Em bandos pacíficos e ordeiros, bem diferente do que se vê com os porcos, gaviões e bambis em dias de jogos de futebol no Brasil.
Leões, aqui, são os torcedores do Sporting, um dos maiores times de Portugal.
Como recém-chegado, claro que me senti pressionado a escolher um time de coração, aquele pra gritar, chorar e, sobretudo, beber para comemorar as vitórias, esquecer as derrotas e lamentar (ou não) os empates.
A vantagem de escolher um time depois de velho é que você tem a chance de fazer um "test-drive" antes de assinar o contrato para uma vida de sofrimento infindável - prestando muita atenção no que dizem as letras miúdas no final da página.
No Brasil, herdei do meu pai a cidadania italiana, que me facilita um tanto a vida aqui. Em compensação, herdei também a paixão pelo Palmeiras, que dificultou as minhas manhãs pós-finais de campeonato durante mais de 20 anos.
Um inconveniente que eu não posso me dar ao luxo de repetir.
Por isso decidi que, antes de optar por um time, iria a todos os estádios. Com uma prancheta na mão para avaliar desde a arquitetura até os hinos da torcida.
E lá fui eu, ontem, ver o Sporting. Antes de mais nada, preciso dizer que estava com uma pulseirinha VIP, para que ninguém pense que a boiada é tão grande assim.
Pra começar, chegamos cerca de meia-hora antes do jogo. Sem tumulto, sem stress, sem medo de ser visto no carro com a camisa do time errado. Aliás, no carro estava o filho de 6 anos e a sogra do sujeito que me descolou a entrada VIP. Programa completamente familiar. No Brasil, conheço muita gente que levaria a sogra a um estádio lotado, mas não o filho de 6 anos.
Chegamos e estacionamos lá dentro, no subsolo. Depois pegamos o elevador, como num shopping confortável de São Paulo. Subimos e fomos parar no setor de camarotes (o 2º mais bacana, porque os bons mesmo são um andar acima). Lá havia um enorme buffet montado, com bacalhau, batatas, 200 mil sobremesas, vinho e cerveja para quem tivesse a tal pulseirinha. E olha que não era pouca gente.
Faltando 2 minutos pra começar a partida, todo mundo se dirige ao local marcado. No nosso caso, confortáveis cadeiras com espuma. Estádio mais de 80% ocupado, mesmo com o jogo sendo transmitido pela TV aberta local. Poucas emoções no primeiro tempo. Intervalo e todo mundo volta pro buffet. O segundo tempo foi um pouco melhor: expulsão do goleiro adversário, pênalti perdido e, finalmente, gol do Liedson, aquele brasileiro de algum destaque no Corinthians e que agora é rei por aqui. Palmas na hora do gol. Nada de muitos gritos. Nada da torcida inteira cantando. Tudo muito civilizado. Às vezes, exageradamente civilizado.
No final, um belo programa de domingo. Pensando friamente, acho que o Benfica vai ter que se esforçar muito para me conseguir como sócio. O jogo não foi nada incrível. Mas você precisava ter provado aquele bacalhau…

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Quebrei alguma coisa?


Foi o que perguntei para o garçom da Enoteca ao ver o tamanho da conta. Enoteca ou Chafariz do Vinho (argh) é um restaurante maneiríssimo (olha a convivência com os cariocas) que tem aqui em Lisboa, construído dentro de antigos dutos que abasteciam de água a cidade. Ou deveriam abastecer. Porque me parece que, por um erro de cálculos, ele nunca chegou a funcionar direito. E, antes de ter certeza que os engenheiros não eram britânicos ou alemães, vou resistir a fazer qualquer piada com este pequeno deslize matemático, ok?

Mas, voltando ao assunto, o lugar é sensacional. Pra falar a verdade, em vez de pratos, o lugar tem porções moderninhas, como Carpaccio de Polvo Prensado, Trouxa de Couve com Alheira de Caça e Tâmaras com Bacon Gratinadas. Tenho que confessar que este último estaria na minha lista de 3 derradeiros desejos da vida, junto com a Fernanda Lima e a Aline Moraes. Tá, talvez eu abrisse mão de uma delas por outra porção de tâmaras.

Como se não bastasse, os vinhos, que afinal dão nome ao lugar, são maravilhosos. Claro que há opções mais baratas, mas você não vai a um lugar assim pra pedir um Sangue de Boi, ou Periquita, que é o equivalente aqui de vinho meia-boca, né? E aí é que está o problema. Você se empolga, pede entradas, vinhos de sobremesa e, quando chega a conta, toma um susto. E quando vê que aquele valor está em euros, leva outro susto, 2,5 vezes maior que o primeiro.

Bem, no final, não dá pra negar que a visita vale a pena. Eu fui com um casal de amigos, mas acho que o ideal é que você vá no inverno, acompanhado de uma mulher. Uma mulher, não. Tem que ser "a" mullher. Qualquer coisa menos valiosa que a Aline ou a Fê fatalmente vai acabar trocada por um prato de tâmaras.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Quem nasceu pra lesma nunca chega a escargot.


Uma das iguarias mais conhecidas aqui de Lisboa são os caracóis, perfeitos para se apreciar no verão junto com longos goles de imperial (ou "chopps", para os paulistanos como eu). Em todo boteco que se preza está lá a frase "há caracóis", invariavelmente rabiscada com caneta BIC azul numa folha de papel.

Lógico que eu não consegui me esquivar desta experiência aparentemente não muito sedutora e fui com o pessoal daqui provar o acepipe. Antes que reste qualquer dúvida, o caracol a que me refiro é aquele mesmo que você conhece, gosmento, que deixa um rastro melequento nas paredes e que enfartaria qualquer mãe que encontrasse seu filho brincando no jardim com um deles na boca.

Bom, o fato é que fui convencido a experimentar. Pra falar a verdade, o gosto não chega a ser ruim, mesmo porque você sente mais os temperinhos do que o próprio sabor da carne. A aparência incomoda um pouco, principalmente aquelas anteninhas atrofiadas, por isso eu sugiro que você não olhe muito para eles. E também não ouse lembrar que se trata de um bichinho hermafrodita, já que pouquíssimas pessoas que eu conheço se sentiriam à vontade com um órgão reprodutor mascullino e outro feminino ao mesmo tempo na boca (sem nomes, por favor).

No final das contas, foi menos traumatizante do que eu imaginava, sobretudo depois de vários copos. Acho, inclusive, que vou me render outras vezes.

Ah, é claro que você pode ter achado tudo muito nojento e jurado que nunca ia colocar um desses na boca. A má notícia , no caso de você ser uma mulher, é que você já pode ter colocado sem ao menos saber. É que muitos batons são produzidos com a matéria prima deste pequeno molusco gastrópode, mais exatamente daquela gosminha que eu falei acima.

É, antes de me pedir um beijo, ofereça algumas cervejas.

Velhinhos


Coisas que não funcionam em Portugal:

• Fila preferencial: que tipo de grávida ou lactante vai querer dividir a fila com os idosos, num país onde eles são a maioria?

• Baile da terceira idade: não tem quórum. A galera está toda muvucada nos bailes da 4ª, 5ª e 6ª idades.

• Previdência Privada: como poderia funcionar num país onde os casais vivem até os 230 anos (115 cada)?

terça-feira, 14 de agosto de 2007

A fonte da juventude.

Quando eu era pré-adolescente e exibia alguns quilos a mais do que gostaria, adotei uma tática no intuito de me dar bem com as gurias. Em vez de me matricular numa academia ou passar a semana comendo alface, decidi por algo mais simples: ter amigos gordos. Isso mesmo. Escolhia minhas amizades não pelas afinidades intelectuais ou morais, mas pelo ponteiro da balança. Minha teoria era óbvia. Comparativamente, quanto mais gordos eu tivesse ao meu lado, mais magro eu pareceria. E, consequentemente, maior a chance de conquistar uma mulher.

Não vem ao caso aqui avaliar se esta técnica funcionou ou não. O certo é que, chegando em Portugal, percebi que este seria um ótimo lugar para envelhecer. Segundo minhas pesquisas, cerca de 102% da população portuguesa tem 100 anos ou mais. O que vai me fazer, aos 70 anos, parecer um garoto. O baile da terceira idade que se prepare...

Quase lá.

Eu vim pra Portugal. Mas minha mãe mente pras amigas que eu moro na Europa.

sábado, 11 de agosto de 2007

A febre do TomTom

Uma das primeiras coisas que me chamou a atenção em Portugal foi a quantidade de aparelhos GPS que encontrei na Fnac daqui. Tá bom, eu poderia começar meus textos falando de lugares históricos e bem mais interessentes mas, em 2007, meu amigo, a primeira coisa que você precisa quando vai morar numa cidade nova é um celular - com o número do consulado na memória, só pra garantir. E lá estava eu no tal shopping, pesquisando entre as diferentes lojas de telemóvel, quando me deparei com a Fnac e suas prateleiras repletas de TomTom, que é como os caras chamam o GPS aqui (telemóvel eu garanto que você já sabia o que era).

O que me impressionou, além das TVs de LCD (plasma é coisa do terceiro mundo, tá?) de marcas que eu nunca ouvi falar, foram as prateleiras abarrotadas de GPSs. Eram de todas as espécies: para usar no aparelho celular, junto com Palm, em aparelhinhos separados, modelos e mais modelos, que variavam entre 500 e 1.000 euros.

Fiquei imaginando por que um país que pode ser atravessado de norte a sul em apenas 7 horas e onde tudo é tão bem sinalizado, precisaria de tantos GPSs. Achei que poderia ser um desperdício de dinheiro. Até que me dei conta do mais óbvio dos fatos: um povo que queria chegar às Índias e acabou indo parar no Brasil realmente não pode se gabar muito do seu senso de direção.