quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Seria cômico se não fosse comigo


Mais uma bela manhã em Lisboa. E aqui não há ironia alguma porque, mesmo com o frio, o Sol fingia ser verão no céu mais perfeito que já vi.

Vou pegar meu carro alugado para o Reveillon, que parei na rua na noite anterior. Abro o carro e logo vejo o proprietário de uma loja de motos, do outro lado, gritando comigo:

- Ah, finalmente chegou...

- Aconteceu alguma coisa?

- Ninguém aqui pode trabalhar por sua causa! Você não viu a placa!

Olho para trás e realmente percebo uma placa (aliás, duas) dizendo que trata-se de uma área exclusiva para motos, entre as 8 da manhã e 6 da tarde. Logo me desculpo, como qualquer um faria:

- Mil desculpas, realmente eu não tinha percebido, foi uma falha, desculpa mesmo atrapalhar vocês.

Ele me escuta, mas parece não registrar.

- Ninguém trabalha aqui por sua causa!

- Eu sei...Tô vendo agora, realmente vocês têm razão, eu peço mil desculpas, mil desculpas mas não vi a placa.

- Não viu? Você tá cego?

- Se eu tivesse visto, teria tirado meu carro antes das 8 da manhã. Desculpa. Eu não vi mesmo.

Daí vem a provocação:

- No Brasil vocês não têm isso, não?

- Sim, temos, mas eu realmente não vi.

Sem me dar chance de resposta, ele continua:

- É, acho que não existe não.

- Existe. Mas lá também existe se desculpar por um erro que você cometeu. Por isso tô pedindo desculpas.

Neste momento, acho que a discussão finalmente vai ter fim. Mas ele não desiste fácil:

- A gente aqui sem trabalhar! Você não trabalha pelo jeito, né?!

- Trabalho sim, numa empresa portuguesa, inclusive.

- Então tá atrasado porque são 10 da manhã!

- Sim, são 10 da manhã mas eu não tenho hora certa pra chegar.

- Ah, não tem hora pra chegar. Eu queria um trabalho assim!

Eu, que sou mané mas não sou burro, neste momento já entrei no carro e travei as portas. Então abro a janela e digo:

- Da próxima vez, você estuda.

E assim escrevo mais um capítulo na guerra dos brasucas mal-educados X tugas mal-humorados. Que, no fim das contas, é só uma questão de ponto de vista.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O pior dos dois mundos.


Não ter calor (nem mar) pra pular ondinhas.
Não ter frio suficiente para nevar no Natal.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O dólar psicológico


Mesmo quem nunca viajou para o exterior sabe que existe um dólar oficial e um paralelo. O que pouca gente já se deu conta é que há uma única moeda realmente relevante ao turista: o dólar psicológico.

Ao contrário das suas outras versões, o dólar psicológico não flutua com o humor do mercado, o nível do investimento imobiliário norte-americano ou as intervenções do Banco Central. Depende apenas do momento psicológico do comprador.

Vamos a um exemplo prático: sua esposa viaja e encontra aquela bota de couro, igualzinha as outras 12 que ela tem, por US$ 65. Neste exato momento, pelas contas dela, a bota custa menos de R$ 100, o que indica uma cotação de cerca de 1,5 reais por dólar.

Você até pensa em se intrometer, mas logo percebe que, pela lógica, aquele Blackberrry de US$ 299,99 sairá por menos de 450 reais. Uma pechincha.

Isso acontece, basicamente, em todo o momento de compra de um brasileiro no exterior, principalmente na frente de gêneros de primeira necessidade como botas de couro e Blackberrys.

Mas o dólar psicológico também tem disparadas repentinas. É o caso, por exemplo, de quando você vê um produto brasileiro numa vitrine ou prateleira. Uma garrafa de pinga que custa 22 dólares equivale a quase 50 reais, elevando a cotação para 2,27. Uma Havaianas de US$ 40 equivale a praticamente 100 reais (o mesmo preço da bota de US$ 65,00, veja você).

Morando em outro país você acha que vai perder este vício, já que não apenas gasta, como também ganha em outra moeda. Engano seu. Faz quatro meses que estou em Lisboa e ainda me surpreendo ao ver que um PF com bife custa exorbitantes 25 reais, enquanto um prato de bacalhau sai por módicos 15. Mesmo sabendo que ambos levam 7 euros da minha carteira.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Heróis Portugueses


Talvez você não saiba, mas os portugueses têm a capacidade de enxergar o futuro. Não se trata de nenhum grande poder, como um fã de Heroes poderia imaginar, já que esta habilidade os capacita apenas a ver os acontecimentos 1 ou 2 segundos antes de se tornarem realidade.

É isto que explica, meu caro leitor (o singular aqui não é por acaso), o fato de ter sempre um português buzinando atrás de você antes mesmo do semáforo abrir. Mas, é claro, a culpa não é deles. É do restante da população mundial, que só consegue enxergar a luz verde no exato momento em que ela aparece.

O mais curioso é que, apesar deste comportamento, outra coisa muito comum aqui é ver carros parados no meio da rua, interrompendo o tráfego pelos motivos mais banais: um afago no cachorro do amigo, uma compra rapidinha na pastelaria, uma conversa sobre a artrite que piorou com o frio. E, nestes casos, ninguém parece se incomodar muito.

Acho que eles precisam economizar cada milésimo de segundo nos semáforos para poder, no fim do dia, esperar um tiozinho, parado no meio da rua, descarregar as 130 caixas que acabou de trazer da Ikea.