quinta-feira, 20 de novembro de 2008

De graça, até o Galvão Bueno.


Eu reclamo do Galvão. Tu reclamas do Galvão. Todas as conjugações reclamam do Galvão. Mas, aqui entre nós, em Portugal eu sentia falta do Galvão. Do zero a zero "dramááátiiiico" em um amistoso contra a Guatemala. Das brigas com o Arnaldo César Coelho. Da eterna esperança no Rubinho (a mesma que minha mãe tem em mim, coitada).

No fundo, gosto da empolgação cega do Galvão que quer nos fazer acreditar que "São Caetano é Brasil na Libertadores" e se esgoela até em luta de taekwondo femino, um esporte no qual nem os juízes conhecem as regras.

No tempo que fiquei em Lisboa, percebi que não entender picas sobre o que diz não é um privilégio dos narradores daqui. Lembro que um dia estava assistindo a uma corrida de Fórmula 1, daquelas pouco empolgantes: o Massa saiu na frente, foi abrindo vantagem, ninguém passava ninguém. Daí entrou o narrador dizendo: "Ao que tudo indica, se o Massa continuar andando mais rápido, se o carro não quebrar e se ele fizer o pit-stop mais rápido, deve ganhar a corrida". Sim, ainda usou o "deve" ganhar a corrida, porque não pega bem um locutor errar o prognóstico.

Ah, e com uma desvantagem relativamente grande: lá, para ver a Fórmula 1 (ou qualquer campeonato que preste) eu tinha que pagar cerca de 25 euros pra ter os canais de esporte na minha TV. Pense nisso antes de mandar o Galvão tomar no cu na próxima transmissão. Ele é ruim. Mas por 75 reais, seria muito pior.

Brasil 6 x 2 Portugal


Hoje ia ser bom morar em Portugal.
Dava até pra esquecer que o Dunga vai continuar sendo técnico.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Dica de Viagem I


Quando em Nova Iorque, não deixe de visitar a Berta Brasil Boutique. Era o que dizia um comercial muito tosco que vivia passando na TV, quando o dólar valia algo como 1 ou 3 milhões de cruzados novos.

Lá era o lugar perfeito para encontrar modernidades tecnológicas como aparelhos de fax (não uso a palavra faxes nem a pau), disquetes flexíveis e até telefones sem fio, que eram a febre do momento (odeio a palavra febre também).

O comercial ainda prometia que você seria tratado com o bom humor e simpatia dos brasileiros, e nos convidava até a tomar um típico cafezinho brasileiro na loja. Para fechar, dizia algo como: “um pedacinho do Brasil no coração de NY”.

Contei toda esta lengalenga só para poder plagiar à vontade. O que eu diria para alguém que fosse visitar Portugal, seria: Quando em Lisboa, não deixe de visitar o Meninos do Rio.

O lugar, que eu já citei aqui, é o que chamam de esplanada. Um bar/restaurante à céu aberto, em bom português brasileiro. Fica na beira do Tejo, com vista para o Cristo-Redentor-Anão do outro lado e para a ponte 25 de abril, a Golden Gate de Portugal.

O nome refere-se obviamente ao rio Tejo, mas também ao fato dos donos serem do Rio de Janeiro. E aí é que entra o “pedacinho brasileiro em Lisboa”. Lá, ninguém vai ter a coragem de te servir um chopp a temperatura ambiente dizendo que na Europa é assim mesmo. Podem até chamar de imperial, mas tem que vir gelado. E, apesar do serviço não ser dos mais rápidos, rola aquela simpatia (em geral) que a gente está acostumado.

Num dia de Sol, poucos cenários são tão bonitos quanto aquele. E mais perfeito ainda é ter tempo para esperar que ele se ponha. A comida é média, nada de incrível, sobretudo num lugar onde qualquer tasquinha serve pratos de lamber os beiços. Mas você nem vai ligar muito pra isso.

Sem dúvida, era um dos meus lugares favoritos pra tomar um chopp no meio da tarde. Vai por mim que vale a visita. Quanto ao cafezinho, não sei se é tipicamente brasileiro ou não, porque nunca tomei. Quando chegar a hora de pedir a conta, deixe de viadagem e troque o café por outro chopp gelado. E, se voltar dirigindo, cuidado com os trilhos.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Crise de Abstinência


Estou há 2 meses sem Lisboa. Meus sintomas são insônia, ansiedade, irritabilidade, náusea, agitação, taquicardia e hipertensão, mas tudo isso é facilmente explicado pelo excesso de trabalho.

Neste tempo, já deu pra sentir falta de algumas coisas. Fim de tarde no Meninos do Rio, com uma imperial gelada descendo pela minha goela. Da minha Vespa, e da segurança que eu sentia quando a amarrava no poste com a mesma corrente que estava segurando meu estepe quando ele foi roubado na sexta passada, a cerca de 30 cm dos seguranças do bar. Dos vinhos de 3 euros. Das ressacas dos vinhos de 3 euros. Dos textos do Ricardo Araújo Pereira na Visão. Do Público de Domingo. Das praias a 30 minutos de distância. Dos jogos da Champions num horário decente. Do peixe e do porco preto. Mas o pior foram os amigos que ficaram aí. Ainda vou dar um jeito de importar estes putos.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Despedida I


Semana passada fui cancelar minha TV a cabo que, em Portugal, se chama TV Cabo. Depois daquela burocracia básica, de dizer que estava voltando para o Brasil, que não sabia quem ia ficar com o apartamento, blá, blá, blá, consegui convencer a mocinha a fechar a conta pra mim. Pelo menos eu pensava que sim. Até atender meu telemóvel no dia seguinte:

- Bom dia.
- Bom dia.
- O senhor cancelou sua assinatura da TV Cabo?
- Sim, cancelei.
- E qual seria o motivo, senhor?
- É que estou voltando para o Brasil.
- Certo. Mas o senhor não teria interesse em continuar com a TV Cabo lá?
- Cuma?
- É, continuar com a assinatura da TV Cabo…
Pausa para meu raciocínio.
- E vocês levam o cabo até lá?
- Não, senhor… A assinatura é via satélite.
- Mas vocês têm assinatura via satélite no Brasil?
Pausa para raciocínio dela.
- Espera um minutinho que eu vou ver…
Começa a tocar Pour Elise no meu ouvido. Depois de alguns minutos, enquanto eu refletia o que me levaria a ter, no Brasil, a assinatura de uma TV que cobra 10 euros só pela Globo, ela volta:
- Desculpe senhor, mas no Brasil não tem.
- Jura?
- Sim, senhor.
- Bom, é uma pena… Mas então deixa eu te perguntar uma coisa: você me ligou para quê?
Longa pausa para raciocínio dela.
- Só um minutinho, senhor.
E a linha caiu.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A vida imita a arte


Se você possui um nível cultural elevado como o meu, com certeza já deve ter assistido à tetralogia do Máquina Mortífera. Não sei exatamente em qual dos filmes existe uma cena em que o Mel Gibson começa a mostrar suas cicatrizes de bala para a Rene Russo, que passa a competir com ele na mesma moeda. Rola aquele famoso clima de tensão sexual enquanto os dois vão levantando as roupas e despindo partes do corpo só para provar quem possui as piores marcas.

Todos os dias, nos ônibus aqui de Lisboa, cenas parecidas se repetem. Bem menos sensuais, é bom que se diga. Saem o Mel Gibson e a Rene Russo e entram as doravantes denominadas Velhinha 1 e Velhinha 2.

A competição, claro, não é entre cicatrizes de balas, pois não estamos no Rio de Janeiro. O que rola aqui é um duelo para ver quem tem as piores doenças e, consequentemente, menor tempo de vida. É uma espécie de game da terceira idade, onde os pontos são proporcionais às debilidades.

Tudo começa com a Velhinha 1 dizendo, enquanto levanta a saia: “Já te mostrei a brotoeja que apareceu na minha perna?”. No que a Velhinha 2 responde, cerrando os olhos: “Com a minha catarata você acha que eu vejo alguma coisa?”. A Velhinha 1, sem perder terreno, insiste: “Se o derrame não tivesse paralisado minha perna, eu até erguia pra você ver”. E a velhinha 2 completa: “Pior é que eu nem posso abaixar por causa do meu bico-de-papagaio”. A competição continua, com reumatismo pra cá, pressão alta pra lá, um verdadeiro duelo de titãs, onde nenhuma quer ficar pra trás.

Agora, o pior mesmo é quando uma delas invoca o Alzheimer. Depois de 10 paradas, quando já não parece mais existir outras doenças no dicionário médico, a primeira velhinha se concentra, suspira e recomeça: “Já te mostrei a brotoeja que apareceu na minha perna?”

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Discurso de vencedor


Acabo de ganhar na Euromilhões. Contenham-se meus familiares, sosseguem seus hormônios mulheres e travestis do meu Brasil varonil. Como já escrevi anteriormente, o prêmio aqui pode chegar a 150 milhões de euros. O que não é grande coisa para proletários como o Daniel Dantas e o Salvatore Cacciola, mas, no meu caso, o suficiente para perpetuar umas 2 ou 3 gerações de vagabundos.

Só que, para ganhar este prêmio, você precisa acertar 5 números e 2 estrelas (não vou explicar o que são estrelas, belê?). Eu acertei 2 números e 1 estrela e fui congratulado com exatos 8 euros e 32 centavos - se eu estivesse com quase 400 milhões de reais no bolso, quem estaria escrevendo este blog seria o Luis Fernando Verissimo e você perceberia a diferença.

Bom, claro que já comecei a fazer planos para a bufunfa e não me faltam opções. Posso encher o tanque da minha Vespa, comer 4,3 pastéis de Belém, tomar 3,2 chopes no Bairro Alto ou pegar um táxi para o aeroporto e fugir daqui.

Mas, pra falar bem a verdade, o prêmio me deixou meio deprimido. Sempre tive medo da sorte. E não é porque se parece com a palavra “morte”, como imaginaria um chinês cagalhão. Eu tenho medo é de torrar minha sorte com bobagens. Vou dar um exemplo: quando era pequeno, meus pais ajudavam bingos beneficentes, fazendo as doações das prendas. Me lembro que uma vez voltei pra casa com 5 prêmios, 4 dos quais doados por eles. Inclusive uma calculadora científica, a mais desejada da noite. Lógico que ainda levei esporro no carro.

E este é exatamente o meu medo. Ter gastado minha sorte em doses homeopáticas, juntando quinquilharias. Eu não quero 20 troféus Maria Quitéria, quero o mundial interclubes. Não quero 8 prêmios colunistas, quero um leão de ouro. Não quero as trigêmeas da Playboy, tá, péssimo exemplo, mas já deu pra entender.

O meu grande medo, a partir de hoje, é conferir o resultado do próximo sorteio. A pior coisa que poderia me acontecer seria acertar os 3 números mais a estrela que faltaram nesta semana. Eu provavelmente passaria o resto da vida fazendo contas na minha velha calculadora científica, pensando como teria sido maravilhoso se minha sorte fosse cumulativa.

domingo, 3 de agosto de 2008

Leitura dinâmica


Ler em português daqui é uma experiência esquisita. Me dei conta disso logo na minha primeira semana, ao comprar um livro do Paul Auster, um dos meus autores preferidos. Não consegui chegar nem na metade. Até dava pra perceber o Paul Auster ali, mas ele falava parecido com aqueles personagens de novela de época da Globo. Não rola.

Desde então passei a comprar livros de autores brasileiros, obviamente sem tradução. Pra minha sorte, aqui perto de casa tem uma livraria gigante, com uma prateleira dedicada exclusivamante à literatura brasileira. Como não são baratos, comecei a adotar o hábito de ler várias páginas na livraria, para ter certeza de que valia a compra. Cheguei a passar meia hora lendo um livro. Curti, trouxe-o pra casa e acabei de ler em menos de 1 hora. Me senti lesado. E foi aí começou o meu problema. Voltei na semana seguinte e, de lá pra cá, já foram 2 livros lidos completamente dentro da livraria.

Sei que eu deveria me sentir mal, mas tudo é questão de ponto de vista. Pensei nas árvores que tiveram que cair para que o livro fosse publicado, no petróleo utilizado para transportá-lo até aqui, no tempo de decomposição da capa plastificada e demais desdobramentos. Como diz o Capitão Nascimento, quem consome é que financia esta merda. E não dá pra negar que, no caso dos livros, ler sem comprar é bem mais eficiente que fumar e não tragar.

Claro que tem o lance os direitos autorais, que eu acho mais do que justo. Por isso, munido de alta sensibilidade ética, só recomendo fazer isso com autores que já morreram. Daí o peso na consciência é zero. Em tempos do ecologicamente correto, nada como ser um filho da puta sustentável.

Comunicado Importante


Das 8 pessoas que lêem este blog, um percentual altíssimo já reclamou: “Pô, você só mete o pau em Portugal!”. Acho que vale um esclarecimento, sempre em nome da minha pequena e infiel audiência. Sou redator publicitário. Isso significa que me pagam pra falar bem de tudo, como facas que cortam sapatos e meias que não desfiam com arranhões de gato. Aliás, a tendência é sempre para o exagero: um banco que não quer o seu dinheiro, apenas o bem do planeta. Produtos de beleza que valorizam você e salvam índios na Amazônia. Até musiquinha insuportável pra vender margarina eu já fiz. Então, se você quer que eu fale bem daqui, pode anotar: banco 237, Ag. 1221, c.c. 21834-7. Me manda o comprovante de depósito que eu escrevo o que você quiser. Falo bem de taxista, digo que o inverno daqui é uma delícia, provo até que pastel de Belém emagrece. Numa tranquila, numa relax, numa boa. Afinal, se eu tivesse um pingo de caráter, teria procurado outra profissão e hoje seria advogado dos Nardoni.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Apertem os cintos


Aconteceu comigo. Não foi com um amigo de amigo nem com um primo meu do interior.

Outro dia eu peguei um vôo da TAP, a companhia aérea portuguesa, pra quem não sabe. Como sempre, entrei na aeronave, achei minha poltrona, coloquei a bagagem em seu devido lugar e me sentei com um livro para me distrair na viagem. Até aí, beleza. Mal abro o livro e começo a reparar na musiquinha em ritmo de bossa nova que toca dentro do avião. Ainda não encontrei a letra inteira na Internet, mas juro que dizia algo como: "blá, blá, blá, coração... Que é bobagem quem tem medo de avião... É bobagem quem tem meeeeedo de aviãããão!" Tô muito enganado ou é o mesmo que falar de corda em casa de enforcado?

Na boa, eu até entendo que a mensagem da tal musiquinha é positiva. Mas pra que chamar atenção pro problema? Quem teria a idéia de dar um daqueles quadros com diferentes nós de marinheiro pra família do cara que se esfolou na forca? Quem é que pergunta pra família, na véspera de 21 de abril, se eles vão enforcar o feriado de Tiradentes? Pelo amor de Deus, gente. Um pouco mais de bom senso, né?

Do jeito que as coisas andam, não vou ficar nem um pouco surpreso se, no próximo vôo, olhar para o menu de filmes de bordo e tiver que escolher entre "Vivos", "Vôo 93", "Sobreviventes dos Andes" ou "Skyjacked". Claro, mas sempre podendo optar também por uma boa série como "Lost".

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Corta!


Cinema, aqui em Portugal, tem intervalo. Não, esta não é uma introdução de piada sobre o cinema do Manuel ou do Joaquim. É a mais pura verdade, apesar de não ser regra geral para todas as salas. Mas acontece.

Fico imaginando quem teve esta brilhante idéia. Na certa, algum marqueteiro preocupado em aumentar as vendas de pipoca e chicletes (que aqui se chamam "pastilhas elásticas"). Só pode ser isto.

Você até pode argumentar: "Ah, e se eles estavam preocupados com os velhinhos que sofrem de incontinência urinária?". Sinto desapontá-lo, mas não pode ser. E eu explico. Aqui perto de casa tem um shopping com umas 10 salas de cinema. Em mais da metade tem o tal intervalo, de exatos 7 minutos. Isso mesmo, 7 minutos ou 420 segundos. Tempo suficiente para ir ao banheiro, caso o cinema tivesse um. Mas não tem. Você sai da sala e tem que correr pelo shopping até o banheiro mais próximo. Eu, apesar de estar sempre acima do peso, ainda não tenho dificuldade de locomoção e precisei andar em ritmo de marcha olímpica pra pegar o reinício do filme. Pense bem: três minutos para chegar ao banheiro, 50 segundos pra urinar, 10 pra chacoalhar e pode esquecer de lavar as mãos, porque você vai precisar dos mesmos 3 minutos para voltar. Sacanagem comigo e maior ainda com os velhinhos.

É óbvio que os intervalos foram criados por causa da pipoca, que fica a menos de 15 segundos da sala e pertencem ao mesmo proprietário. Minha única e solitária saída é não comprar. Só assim você consegue derrotar os marqueteiros cabeças-de-bagre, mostrando que a estratégia não funciona. É por este mesmo motivo que nunca comprei nada por telemarketing e nem anunciado no intervalo do Big Brother. Quem sabe, um dia, tudo isso acaba.

A única coisa que me permito, nesta situação, é aceitar a pipoca do meu vizinho de cadeira. Que nunca me ofereceria se soubesse que, para estar de volta em 7 minutos, eu certamente tive que abrir mão da água e do sabonete líquido.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Manchetes


Se meus cálculos estiverem certos, já faz quase um ano que vim pra Portugal. Ainda me lembro de ler, logo no primeiro dia, uma manchete de jornal que me chamou a atenção. Era sobre o caso Maddie, que eu até então desconhecia, da tal filha de um casal de ingleses que sumiu em Portugal, ninguém sabe, ninguém viu, os pais choraram, pediram a benção do Papa, depois foram tidos como suspeitos pelo assassinato e, bom, você sabe qual é. Comentei a notícia com um amigo que já morava aqui e ele me disse: "Porra, já faz seis meses que isso aí é manchete de primeira página em Portugal".

Na semana passada, qual não foi a minha surpresa ao ver, na mesmíssima primeira página, uma manchete do caso de novo. Pensei que tinham chegado finalmente à alguma conclusão, mas estava errado. Parece que o CSI Lisboa não tem progredido muito no assunto. Pensei alto: "puta bosta de país onde as notícias não mudam".

No mesmo dia, liguei a TV Globo Internacional da minha casa - pela qual pago 10 euros por mês pra ver o Faustão e a ararinha-azul no Globo Repórter - e vi a notícia do João Roberto, morto pela PM. Hoje de manhã, assisti novamente ao jornal, mas a notícia já era outra: de um camelô morto e sua filha baleada numa troca de tiros com a polícia. E o pior: entre estes dois casos, já havia mais um assassinato da PM carioca.

Puta bosta de país onde as notícias não mudam.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Moda em Lisboa


Não entendo picas de moda. Sou um daqueles sujeitos que não sabe diferenciar uma Louis Vuitton falsa de uma Prada original (e que só consegue escrever corretamente "Louis Vuitton" depois de recorrer ao Google).

Por isso, não sabia sequer por onde começar um texto sobre a moda em Lisboa, cidade onde moro há pouco mais de 6 meses. Cercado de dúvidas, resolvi sair às ruas com um olhar mais atento e uma prancheta na mão para ver o que eu encontrava.

Depois de uma pesquisa exaustiva, cheguei à conclusão mais óbvia de todas: se existe algo que está na moda por aqui, é o bigode. Há uns 500 anos, é bem verdade, como você pode comprovar em qualquer ilustração nos livros de história. Mas o tempo passou e eles continuam aqui, mais firmes e fortes do que nunca, ornamentando rostos de causar inveja ao Groucho Marx.

Dizem que o português é um inglês que parou no tempo. Eu diria que é um inglês que parou de se barbear.

Basta andar pelas ruas para notar pessoas das mais diversas idades usando diferentes modelos de penugem, que podem adquirir desde formas mais simples, como as piramidais, até estilos barrocos, cheios de curvas milimetricamente tosadas e enroladas.

Claro que esta característica é mais presente em algumas categorias, como 93,4% dos policiais e 102% dos taxistas, por exemplo. Mas, na média, não se pode negar que os bigodes são bem mais comuns aqui do que em qualquer outro lugar do mundo.

E parece que a moda anda se espalhando por aí. Uma das principais revistas daqui publicou, há algumas semanas, uma matéria falando sobre a presença cada vez maior de bigodes nos Estados Unidos e outros países onde, até pouco tempo, eles seriam motivo de chacota.

Não deixa de ser uma vitória ver um dos ícones mais famosos dos portugueses se transformando num modismo global. Acho que esta é a principal vantagem de manter o mesmo costume por séculos: mais cedo ou tarde, você volta a ser "in", como as calças boca-de-sino e as pochetes (dudida? Espera só pra ver).

Neste momento, um leitor mais irônico deve estar se perguntando: e as portuguesas, hein? Bom, não posso negar que existem algumas que fazem jus à fama. Mas o fato é que a globalização chegou, propagando para os quatro cantos do planeta invenções revolucionárias como as nossas sandálias de borracha e a depilação brasileira. Outra moda que, ao que tudo indica, veio mesmo para ficar. Para o bem de todos e felicidade geral da nação.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Recolocação profissional.


Tem que dirigir rápido.
Tem que ser barbeiro.
Tem que estar sempre mal-humorado.
Tem que reclamar o tempo todo da vida.

Acabo de me tocar que o Rubinho possui todas as qualificações profissionais para ser motorista de táxi em Lisboa quando se aposentar.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Trash 80's


Muita gente me pergunta como é a propaganda aqui em Portugal. A melhor definição que me ocorreu até agora foi: pegue um anúario do Clube de Criação da década de 80, abra numa página aleatória e, muito provavelmente, você estará diante de uma bela peça atual daqui.

Em geral, acho que a propaganda aqui está com 2 décadas de atraso em relação à nossa. Claro, com algumas louváveis exceções que se equiparam às melhores campanhas do mundo e faturam os mais cobiçados prêmios. Mas, infelizmente, quase tão raras quanto o cometa de Halley.

A quantidade de trocadilhos que fazem parte da comunicação de grandes empresas aqui é descomunal. Não vou fingir que, toda vez que eu pegava a rodovia dos Imigrantes rumo à praia, não via um gigantesco outdoor com o título "Sil ou não?" saltar aos meus olhos. Um trocadilho infame capaz de corar até o mais fervoroso fã do José Simão.

Mas uma coisa é uma fábrica de fios e cabos elétricos que anuncia nas mesas redondas de domingo, para telespectadores que estão dormindo ou bêbados no sofá. E outra são os maiores anunciantes daqui.

O case que eu mais gosto é da Super Bock, a maior cerveja de Portugal. Pra mim, os caras são ninjas do 8º dan. Alguns exemplos: num cartaz, vemos uma garrafa de cerveja com óculos escuros ao lado do título "Ray-Bock". Em outro, vemos uma garrafa com o rótulo recortado em formato de biquíni e a palavra "Bockini". Na porta do cinema, um cartaz diz: "Bock to the future". Para divulgar uma promoção de 3 cervejas no Rock in Rio, outro cartaz enuncia: "Bock in trio". E por aí vai.

Mas não pense que a Super Bock é exceção. A maior empresa de telefonia acaba de lançar uma TV a cabo, com o nome de Meo. O slogan? "O mundo é Meo", óbvio. Sem falar na loja de eletrodomésticos que mais anuncia aqui, chamada Worten. E adivinhe o slogan? "Worten sempre". Juro. Sem sacanagem.

Meu único alívio é ver a propaganda angolana, que é veiculada em alguns canais a cabo e acaba sendo transmitida para cá também. Hoje mesmo eu quase chorei de rir com uma, de uma espécie de crédito habitação ou algo que o valha, cuja slogan final era: "É grande porque é angolano".

E tem gente que ainda paga-pau para o humor inglês...