segunda-feira, 28 de julho de 2008

Apertem os cintos


Aconteceu comigo. Não foi com um amigo de amigo nem com um primo meu do interior.

Outro dia eu peguei um vôo da TAP, a companhia aérea portuguesa, pra quem não sabe. Como sempre, entrei na aeronave, achei minha poltrona, coloquei a bagagem em seu devido lugar e me sentei com um livro para me distrair na viagem. Até aí, beleza. Mal abro o livro e começo a reparar na musiquinha em ritmo de bossa nova que toca dentro do avião. Ainda não encontrei a letra inteira na Internet, mas juro que dizia algo como: "blá, blá, blá, coração... Que é bobagem quem tem medo de avião... É bobagem quem tem meeeeedo de aviãããão!" Tô muito enganado ou é o mesmo que falar de corda em casa de enforcado?

Na boa, eu até entendo que a mensagem da tal musiquinha é positiva. Mas pra que chamar atenção pro problema? Quem teria a idéia de dar um daqueles quadros com diferentes nós de marinheiro pra família do cara que se esfolou na forca? Quem é que pergunta pra família, na véspera de 21 de abril, se eles vão enforcar o feriado de Tiradentes? Pelo amor de Deus, gente. Um pouco mais de bom senso, né?

Do jeito que as coisas andam, não vou ficar nem um pouco surpreso se, no próximo vôo, olhar para o menu de filmes de bordo e tiver que escolher entre "Vivos", "Vôo 93", "Sobreviventes dos Andes" ou "Skyjacked". Claro, mas sempre podendo optar também por uma boa série como "Lost".

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Corta!


Cinema, aqui em Portugal, tem intervalo. Não, esta não é uma introdução de piada sobre o cinema do Manuel ou do Joaquim. É a mais pura verdade, apesar de não ser regra geral para todas as salas. Mas acontece.

Fico imaginando quem teve esta brilhante idéia. Na certa, algum marqueteiro preocupado em aumentar as vendas de pipoca e chicletes (que aqui se chamam "pastilhas elásticas"). Só pode ser isto.

Você até pode argumentar: "Ah, e se eles estavam preocupados com os velhinhos que sofrem de incontinência urinária?". Sinto desapontá-lo, mas não pode ser. E eu explico. Aqui perto de casa tem um shopping com umas 10 salas de cinema. Em mais da metade tem o tal intervalo, de exatos 7 minutos. Isso mesmo, 7 minutos ou 420 segundos. Tempo suficiente para ir ao banheiro, caso o cinema tivesse um. Mas não tem. Você sai da sala e tem que correr pelo shopping até o banheiro mais próximo. Eu, apesar de estar sempre acima do peso, ainda não tenho dificuldade de locomoção e precisei andar em ritmo de marcha olímpica pra pegar o reinício do filme. Pense bem: três minutos para chegar ao banheiro, 50 segundos pra urinar, 10 pra chacoalhar e pode esquecer de lavar as mãos, porque você vai precisar dos mesmos 3 minutos para voltar. Sacanagem comigo e maior ainda com os velhinhos.

É óbvio que os intervalos foram criados por causa da pipoca, que fica a menos de 15 segundos da sala e pertencem ao mesmo proprietário. Minha única e solitária saída é não comprar. Só assim você consegue derrotar os marqueteiros cabeças-de-bagre, mostrando que a estratégia não funciona. É por este mesmo motivo que nunca comprei nada por telemarketing e nem anunciado no intervalo do Big Brother. Quem sabe, um dia, tudo isso acaba.

A única coisa que me permito, nesta situação, é aceitar a pipoca do meu vizinho de cadeira. Que nunca me ofereceria se soubesse que, para estar de volta em 7 minutos, eu certamente tive que abrir mão da água e do sabonete líquido.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Manchetes


Se meus cálculos estiverem certos, já faz quase um ano que vim pra Portugal. Ainda me lembro de ler, logo no primeiro dia, uma manchete de jornal que me chamou a atenção. Era sobre o caso Maddie, que eu até então desconhecia, da tal filha de um casal de ingleses que sumiu em Portugal, ninguém sabe, ninguém viu, os pais choraram, pediram a benção do Papa, depois foram tidos como suspeitos pelo assassinato e, bom, você sabe qual é. Comentei a notícia com um amigo que já morava aqui e ele me disse: "Porra, já faz seis meses que isso aí é manchete de primeira página em Portugal".

Na semana passada, qual não foi a minha surpresa ao ver, na mesmíssima primeira página, uma manchete do caso de novo. Pensei que tinham chegado finalmente à alguma conclusão, mas estava errado. Parece que o CSI Lisboa não tem progredido muito no assunto. Pensei alto: "puta bosta de país onde as notícias não mudam".

No mesmo dia, liguei a TV Globo Internacional da minha casa - pela qual pago 10 euros por mês pra ver o Faustão e a ararinha-azul no Globo Repórter - e vi a notícia do João Roberto, morto pela PM. Hoje de manhã, assisti novamente ao jornal, mas a notícia já era outra: de um camelô morto e sua filha baleada numa troca de tiros com a polícia. E o pior: entre estes dois casos, já havia mais um assassinato da PM carioca.

Puta bosta de país onde as notícias não mudam.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Moda em Lisboa


Não entendo picas de moda. Sou um daqueles sujeitos que não sabe diferenciar uma Louis Vuitton falsa de uma Prada original (e que só consegue escrever corretamente "Louis Vuitton" depois de recorrer ao Google).

Por isso, não sabia sequer por onde começar um texto sobre a moda em Lisboa, cidade onde moro há pouco mais de 6 meses. Cercado de dúvidas, resolvi sair às ruas com um olhar mais atento e uma prancheta na mão para ver o que eu encontrava.

Depois de uma pesquisa exaustiva, cheguei à conclusão mais óbvia de todas: se existe algo que está na moda por aqui, é o bigode. Há uns 500 anos, é bem verdade, como você pode comprovar em qualquer ilustração nos livros de história. Mas o tempo passou e eles continuam aqui, mais firmes e fortes do que nunca, ornamentando rostos de causar inveja ao Groucho Marx.

Dizem que o português é um inglês que parou no tempo. Eu diria que é um inglês que parou de se barbear.

Basta andar pelas ruas para notar pessoas das mais diversas idades usando diferentes modelos de penugem, que podem adquirir desde formas mais simples, como as piramidais, até estilos barrocos, cheios de curvas milimetricamente tosadas e enroladas.

Claro que esta característica é mais presente em algumas categorias, como 93,4% dos policiais e 102% dos taxistas, por exemplo. Mas, na média, não se pode negar que os bigodes são bem mais comuns aqui do que em qualquer outro lugar do mundo.

E parece que a moda anda se espalhando por aí. Uma das principais revistas daqui publicou, há algumas semanas, uma matéria falando sobre a presença cada vez maior de bigodes nos Estados Unidos e outros países onde, até pouco tempo, eles seriam motivo de chacota.

Não deixa de ser uma vitória ver um dos ícones mais famosos dos portugueses se transformando num modismo global. Acho que esta é a principal vantagem de manter o mesmo costume por séculos: mais cedo ou tarde, você volta a ser "in", como as calças boca-de-sino e as pochetes (dudida? Espera só pra ver).

Neste momento, um leitor mais irônico deve estar se perguntando: e as portuguesas, hein? Bom, não posso negar que existem algumas que fazem jus à fama. Mas o fato é que a globalização chegou, propagando para os quatro cantos do planeta invenções revolucionárias como as nossas sandálias de borracha e a depilação brasileira. Outra moda que, ao que tudo indica, veio mesmo para ficar. Para o bem de todos e felicidade geral da nação.