
Mais uma bela manhã em Lisboa. E aqui não há ironia alguma porque, mesmo com o frio, o Sol fingia ser verão no céu mais perfeito que já vi.
Vou pegar meu carro alugado para o Reveillon, que parei na rua na noite anterior. Abro o carro e logo vejo o proprietário de uma loja de motos, do outro lado, gritando comigo:
- Ah, finalmente chegou...
- Aconteceu alguma coisa?
- Ninguém aqui pode trabalhar por sua causa! Você não viu a placa!
Olho para trás e realmente percebo uma placa (aliás, duas) dizendo que trata-se de uma área exclusiva para motos, entre as 8 da manhã e 6 da tarde. Logo me desculpo, como qualquer um faria:
- Mil desculpas, realmente eu não tinha percebido, foi uma falha, desculpa mesmo atrapalhar vocês.
Ele me escuta, mas parece não registrar.
- Ninguém trabalha aqui por sua causa!
- Eu sei...Tô vendo agora, realmente vocês têm razão, eu peço mil desculpas, mil desculpas mas não vi a placa.
- Não viu? Você tá cego?
- Se eu tivesse visto, teria tirado meu carro antes das 8 da manhã. Desculpa. Eu não vi mesmo.
Daí vem a provocação:
- No Brasil vocês não têm isso, não?
- Sim, temos, mas eu realmente não vi.
Sem me dar chance de resposta, ele continua:
- É, acho que não existe não.
- Existe. Mas lá também existe se desculpar por um erro que você cometeu. Por isso tô pedindo desculpas.
Neste momento, acho que a discussão finalmente vai ter fim. Mas ele não desiste fácil:
- A gente aqui sem trabalhar! Você não trabalha pelo jeito, né?!
- Trabalho sim, numa empresa portuguesa, inclusive.
- Então tá atrasado porque são 10 da manhã!
- Sim, são 10 da manhã mas eu não tenho hora certa pra chegar.
- Ah, não tem hora pra chegar. Eu queria um trabalho assim!
Eu, que sou mané mas não sou burro, neste momento já entrei no carro e travei as portas. Então abro a janela e digo:
- Da próxima vez, você estuda.
E assim escrevo mais um capítulo na guerra dos brasucas mal-educados X tugas mal-humorados. Que, no fim das contas, é só uma questão de ponto de vista.